quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

África Branca


Imagino-me tantas vezes, perdida na África Branca, perdida naquele calor exótico, naqueles temperos de comida sensual.
Queria ser pássaro e voar, aterrar no deserto, pisar a areia quente, levar o meu vestido de seda incolor, mostrar os seios, sentir na pele a suavidade dos panos.
Cabelos pretos compridos, cachos mal feitos, rebeldes, caem sobre as costas, olhos pretos que viajam entre o sol, pele queimada da vida.
Encontrei-me ali, de pés descalços sobre a rocha, o rio passa-me entre as pernas, a água fresca invade-me a alma, excita-me a vontade de ser animal.
Aquilo que me cobria a carne, tornou-se azul, mudou de cor, aceitou a força da natureza, consigo ser onda rebelde, vejo aquele mar, tão forte, tão mais do que eu. Dançam à minha volta, cheios de cores, fios, missangas, pele pintada, levam-me á loucura, levam-me ao Deus, ao supremo do amor, do sexo, da vida.
Deitada sou amada, penetrada como fogo na madeira. Levo o vestido vermelho, rasgado de tanto ardor, e com ele conheço os caminhos do Tantra e transpiro a alma gasta de tanta sabedoria.
Acordo, sou bordada a branco. Sentada na montanha, cobras rodeiam-me o pescoço, assobiam nos ouvidos de uma mulher viajada, arrepiam-me, chamam-me, querem mais, eles querem mais.
Não dou a mostrar a mais ninguém aquilo que me faz vibrar, quero ficar nesta árvore, pendurada, adormecida, ouvir os pássaros do esconderijo, criar maneiras de fugir, isto é real de mais para alguém acreditar, para eu acreditar.
Desapareço. Nasço nas ruas agitadas de Marrocos, tapada, cara coberta, ninguém me conhece, só descobrem a vida pelos olhos, a pureza não está escondida.
Corro com medo, medo desta arte tão cheia de paixão, destas barbas compridas, destes rituais da religião, como serão na noite privada? Como beijarão os lábios das mulheres de pele clara, da pele que não se mostra?
Naquelas casas de areia, naqueles quartos de laranja, vermelho e verde, o suor escorre-me pelo peito, afoga-se no vale do pescoço. A ventoinha velha desordenada arrasta-me este sentimento de traição.
Rebolo na cama, bebo o vinho da Vida, desvaneço na banheira de rosas. A água refresca me agora. Mostro finalmente as curvas e as gotas de óleo deslizam sem piedade pelas vértebras, contornam as nádegas, caem no chão preto, salpicam o tapete voador.
Naquela noite de flamengo, cravo vermelho na orelha, vestido comprido, seio apertado, sapato alto, danço nas guitarras, volto aos meus, aos descendentes, ao sangue latino. A renda rasga-se por entre as castanholas e os ciganos gritam de vibração.
Passo nas mesas, arrebato cada copo de tinto, sento-me nas cadeiras de madeira, cruzo a perna e mostro o corpo.
Acabo assim, como qualquer mortal, sem coração, sem ar, acabo com os olhos cheios de imagens, de sensações vividas, de pensamentos maus, impuros, mas antes, antes de enterrada na praia dos sonhos, cavalguei o cavalo preto. Sentada de pernas encostadas, segurei bem aqueles músculos, despi o vestido que se tornara cinzento, fiquei nua, sem roupa, sem a seda do principio, não quero mais cores, quero acreditar que continuo a viajar, quero ser de novo e para sempre Senhora do Paraíso.

2 comentários:

  1. Manana, foste rápida!!!

    "(..) pele queimada da vida (...)" boa, diga-se!

    Ai, o que vai nessa cabecinha!!

    Lol!!

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  2. LOLOLOL

    Tu tás masé maluca!!!!!!!!!!!!!!!

    Olha que não não sei, não sabe ninguém, mas tens de dizer ao bruno para carburar mais!!!!!

    Grande cerebreia mental!!!!

    A minha irmã ficou corada de tanta proxenidade obscénica.

    Yu vê lá que ainda te cai o céu na cabeça!!!!

    O mano preto

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