sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

O Peru

Já passou o Natal. Para mim já passou e só regressa o próximo ano. Mas espero eu que regresse sem o Peru. Sem Peru por amor de Deus. Já ontem estávamos todas, lindas de morrer, as primas, na cozinha a beber Cabernet Sauvignon e qual é o meu espanto quando vejo o Peru, inteiro no forno, cheio de maçãs no rabo. A goela cozida, o peito inchado, as asas caídas. Ai não. As coisas pioraram quando decidiram que eu ia cortar o Peru. Não primas, não, isso eu não faço, nem que me paguem um milhão de dólares e me ofereçam uma casa na praia. Não.
Lá estávamos, todas, já com os copos, e eu, eu com a faca na mão. O pior é que eu sei cortar o Peru, esse é que é o problema. As tardes em casa da avó a limpar o pó ensinaram-me muita coisa, uma delas foi, a mulher deverá saber a lida da casa e deverá saber servir o homem. Ya, eu sei servir o homem, mas cortar o Peru, isso já é outro trauma.
Conclusão, a Preta desistiu na hora H, a hora em que a minha tia entra de copo na mãe e diz, ah o Peru, que bonito, que lindo, eu corto-o. Corta tia, corta que eu não como. Estragaram-me o resto do dia quando, já à mesa, falam da morte do Peru e da bebedeira do Peru. Na mesa, a sorte foi o resto do bacalhau, o bolo de milho e o vinho. Sim, porque a Preta é um bicho raro de se encontrar por aí, a Preta não come animais que foram bebés, ou melhor, que não gozaram a infância.
O próximo Natal regressará em formas diferentes. Vou ser diferente. Vou. O próximo Natal não há Peru.
Passada esta quadra festiva maravilhosa, em que meio mundo anda descalço, com fome e um quarto do mundo anda a passear de Ferrari, iniciam-se agora os preparativos para o ano novo. As mentes estão totalmente concentradas na festa do ano. E eu, eu cá ando, para além de traumatizada com a história do Peru, ando super asmática, doente. E não paro. Ando a percorrer as capelinhas todas. Tudo me liga, tudo me convida, tudo me chama…. E eu doente. Claro que, ontem tinha que morrer.
Depois de ter afastado um mosquito em pleno Dolce Vita e ter sido atacada por um tipo que pensou que eu o estava a cumprimentar e ficou meia hora a dizer que os meus olhos eram lindos, fui parar à clínica.
Cá estou eu, cá estou eu a tomar, ora bem, deixem-me contar, seis comprimidos diferentes e todos ao mesmo tempo.
Cá estou eu a preparar-me para a Festa.

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