sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

A minha Viola


Isto é uma lição de vida. Isto é para quem não sabe, aprender. Isto é para tu e eu, eu e tu, sabermos a que mundo pertencemos e daí tirar conclusões. Isto é a diferença entre a minha pessoa e as pessoas. Isto é a minha Viola.
Dizia alguém: quase que choravas a contar a história da Viola. Sim, é verdade, porque tocávamos tão bem as duas, eu tinha uma especial queda para aquilo.

Quando pensava em correr, quando sonhava em namorar, quando caía de mota na praia e chegava a casa atrasada, quando saltava da janela e desfilava com o cabelo rapado, quando tudo e muito mais acontecia, bateram-me à porta. Bateram e levaram-me. A mim e à minha Viola.

A minha Viola de madeira tinha tatuado um dragão chinês, um dragão de fogo, que transmitia segurança, rebeldia, liberdade. As cordas foram colocadas ao contrário porque a mão que a tocava era diferente. A minha Viola custou caro, custou muito numa altura em que a vida não era de folias, era a vida do “aprende a dar valor”, era a minha vida, era a nossa vida que estava em jogo, estava à porta. Decide-te.

Eu e a minha Viola tentámos aprender a tocar juntas com pessoas de classe, tentámos, mas não conseguimos. Eu e a minha Viola acabámos na rua, rodeadas de gente, acabámos sozinhas, acabámos com os tabus e emitimos “A Música”.

Foram os anos mais quentes e fantásticos, mas explosivos e rebeldes, mas indecisos e irresponsáveis. Foram os tempos de uma menina que queria contrariar tudo e todos, uma menina que, para não o fazer sozinha, levou a sua Viola.

De facto há coisas na vida que marcam, arranham, trespassam. Há coisas na vida que crescem connosco e morrem contigo, com várias pessoas.
A minha vida mudou quando me bateram à porta e eu sabia que, naquele momento, a minha Viola deixaria de tocar. Eu sabia.

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