quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

O meu Fato de Linho Branco


Em Terras quentes dizem os costumes que nos devemos vestir de branco. Foi o que fiz hoje. Mas, continuo a sentir o calor.

Em Terras quentes trabalha-se ao som de uma passada e a mente logo se desliga do real, dos problemas. Nesta Terra o que prevalece é o suor. Todo o resto é banalidade, futilidade. A pobreza não existe, o lixo é uma ilusão gráfica, os buracos são perturbações mentais NOSSAS. A corrupção é uma invenção ocidental. O branqueamento de capitais é uma sinónimo de, acabar com a fome.

O meu fato de linho branco sobressai no meio desta cagada toda. O meu fato é especial, tem bom corte, bom linho. Passo de cabeça erguida, ao som de Maya Cool, e abano a anca e digo, “não quero saber, nem pensar, sou só uma mulheri”.

Lá vai a Preta pelas ruas esburacadas, mal alcatroadas, pelos passeios partidos. Lá vai a Preta no Fato de Linho Branco, lá vai a Preta a ver gente descalça, unhas escuras, pés cansados, moscas, peixe seco, rádio sem pilhas.

Faço este caminho do costume, faço-o todos os dias, mas hoje faço-o no estilo. Só me faltam os leques, os homens de chapéu, as paredes amarelas e o quadro da Frida Kahlo.

O meu fato desliza sobre os meus pezinhos suaves e pelas ruas da Baixa da Cidade encontro de tudo, e de tudo é novidade pra mim, porque todos os dias as ruas são penetradas pela globalização infernal.

Montras empoeiradas, vidros rachados, grades gastas e comidas pelo sol africano deixam à vista olhares desesperados, todo o dia é dia de venda frustrada. Mas eu, eu passo aqui no estilo. Eu estou a virar Africana. Ignoro tudo, só não ignoro o meu Fato!

1 comentário:

  1. ....bué style, gostei....Só te alembras-te agora dos Blogs???
    JA

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