segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

O Muro das Lamentações


Realmente há algo de estranho em mim. Ora vejamos em poucas palavras o que tenho escrito na testa: usem e abusem. Sim, abusem, perguntem, peçam opiniões, encostem o ombro no meu ombro, chorem.
Já lá iam uns belos anos sem ver alguns dos que foram para a metrópole estudar, já lá se iam uns 360 dias (ano comercial para ser mais breve) vezes alguns números primos, e voilá, reencontramo-nos, todos crescidinhos, responsáveis (nem todos), curtidores, solteiros, grávidos, estudiosos, baldas, tudo o que de bom e mau há na Terra.
Já lá se iam estes anos todos e de um momento para o outro vejo-me, em plena noite, toda fabulosa, a dar conselhos. Mas isto é normal? Será que estou a envelhecer e não sei? Será que transpareço muita maturidade, calma, responsabilidade? Ai Jesus que se me apaga a luz. “Não é muito aconselhável namorar com a colega do escritório, pois não?” Não, pá, é péssimo, é o pior erro que algum mortal poderá cometer neste paraíso. Tá malllllll, tá erradooooooooo. Brô, tá malllllllll.
“Não é muito bom mudar de emprego de três em três meses pois não Preta?” Não, tá mal, tá errado. “Preta, tou farto da rotina do meu emprego. Vou mudar. Achas que devo?” Meu querido, a rotina é uma enfermidade inevitável no mundo empresarial, sabias? Vais lá sempre parar, acredita.
Bem, lá tava eu, faziam fila, atropelavam-se e gritavam: “eu também quero uma dica. Pretaaaaaaaaaaaaa!!!!!!!! Uhhhhhhhhhhhhhh”.
Estou verdadeiramente preocupada comigo. Acho que vou tatuar o meu corpo todo, fazer 3 piercings, rapar o cabelo, despedir-me, rasgar a tese, abandonar os meus pais, deixar as causas humanitárias e vou viajar de mochila às costas, vou para um mosteiro criar tigres. Vou pensar em mim.
E no meio desta Porra toda, vejo-me perdida no meio de betinhos a falar das famílias ricas de Cascais e a tentar discutir um assunto inteligente com uma Barbie da Linha. A tentar, a tentar, eu tentei não digam que não, eu tentei. Eu tentei descobrir como é que alguém está a fazer um PHD sem nunca ter trabalhado. Trabalhas em quê? “Eu não trabalho, faço investigação!” Bem, esta foi do melhor, esta só no programa de domingo da TVM (Televisão de Moçambique).

De facto é uma boa. Eu também vou entrar nessa. Vou agora levantar-me, encher o peito de ar, vou com aquele andar de modelo, vou sentar-me na secretária do meu chefe e vou dizer: Dr., não quero trabalhar mais porque quero fazer investigação. Ponto.


Vou vestir-me à dondoca, vou falar de banalidades, vou gastar as minhas poupanças todas em materialismo, vou andar por aí sem acentar, vou ser uma mulher normal.

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